10 de janeiro de 2006

A VIGÍLIA


Parece que, apesar do frio, um grupo de "artistas" resolveu reunir-se em frente ao Nacional. Como não li o Público, não sei se a coisa resultou ou não. Mas lá convocação por sms, houve...

Para os amigos quem moram longe façamos uma descrição simples:
Quando os governos mudam (no caso português, "alternam") o novo ministro muda toda a gente que esteja à frente dos departamentos, secretarias, teatros, direcções gerais e por aí fora. É por isso que tanta gente aparece nas campanhas políticas, apoia-se o partido X e depois ele paga com uma panela cheia se for eleito. Normalmente na cultura (sobretudo, e por tradição, a direita portuguesa) metem-se os que não servem para mais nada. Por isso temos os ministros que temos e os secretários que temos.
O governo actual resolveu mudar o director de um peso inútil (não no sentido da necessidade, mas sim no dos resultados práticos) a que se convencionou chamar "Teatro Nacional". Tinha até à data um cenógrafo, suponho, ligado ou do apreço do PSD e agora foi nomeado outro director teatral para essa função. Não sei se a nomeação foi política, de gosto ou de utilidade. A praxis remete geralmente para o primeiro caso. Não sei. Mas sei que a pessoa nomeada foi tratada publicamente por "merceeiro", "Quim Barreiros" (um cantor brega/pimba). Não sei em que se basearam para mimosear um colega dessa forma. Suponho que foi na superioridade intelectual do redactor/emissor.
Quando olhamos mais de perto os intervenientes neste "protesto" vemos que muitos deles fazem parte dos "artistas", unidos pelo facto de terem projectos a correr, ou corridos (do) no Nacional. Outros são amigos dos amigos do antigo director. Muitos são actores a precisar de trabalho e que avistam nesta mudança a perda de trabalhos futuros. Não especulo, baseio-me em casos concretos.
Um dos mais virulentos é precisamente alguém que vive pendurado do bolso dos contribuintes há décadas. As suas opções estéticas têm-nos massacrado a paciência e o erário. E, pela força do lobby suponho que o continuarão a fazer.
Esta ministra não é competente ou não deu até agora provas disso. O Carlos Fragateiro poderá ter no seu c.v. de director teatral opções discutiveis (o caso das desinteressantíssimas peças de Freitas do Amaral, para não ir mais longe), mas manteve o seu teatro cheio de público, preocupou-se com o texto dramático e deu sempre uma atenção privilegiada aos autores nacionais. Além do mais, e ao contrário do A. Lagarto, não ficou com o rabo sentado em casa quando era convidado para ir assistir a novas propostas noutros locais: ia, mesmo quando saía pouco entusiasmado com o resultado. Isso, eu vi. Não dá preferência aos pintéres, fingindo que descobriu a pólvora e que esse acto faz dele um génio.Não precisa: já cá andam outros a fazê-lo.

ps: Não, não vou ter uma peça representada em breve no Nacional. E, não, não sou amigo do Fragateiro. E, não, não acredito em uniões desinteressadas de partes interessadas. Esclarecido?

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